segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

De tarde

Sem saber ao certo qual seria a doença que assolava minha alma, corri para o mar e, ajoelhado, chorando, o céu chorou comigo. Naquela tarde cinzenta, sem luz, senti que o céu e eu erámos uma coisa só.

Eu chorava e ele, complacente, derramava suas lagrimas de dor apenas e com o mero desejo de estar ao meu lado. Tentando enxugar as gotas que caiam, vi que o céu se abria, sem fazer barulho.

Diante de tanta luz, quis ter você por perto, não para te ter, apenas para estar, sem qualquer segurança do que viria, somente com o desejo de viver aquele momento.

O que a vida senão uma sucessão de momentos?

Assim como os grãos de areia que formam a praia, são os momentos que formam a vida. Senti então a plena e tranquila vontade de viver.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Na estrada

A areia pisada que forra o chão para as pedras quebradas que são cobertas pelo asfalto negro que serve de passeio para os pneus de borracha que levam por cima o carro de metal que me leva dentro, feito de carne, pulsante apenas para encontrar.

Te encontrar? Me encontrar?

Para as perguntas não existem respostas aparentes, estão todas enterradas embaixo das pedras que comprei para cobrir-las.

Nos teus olhos luz. Nos meus a cruz, que de igual forma ilumina a noite que paira leve e tranquila, assim como a lua que de um único ponto no céu estrelado ilumina toda a imensidão do universo, sem que ninguém mais possa se esconder.

No carro, já não estou. Não posso dizer que cheguei, você não deixou. Mas no pensamento restou apenas a vontade de estar.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A dançarina

Como se jamais houvesse existido, a dançarina subiu a avenida, virou a esquina e se perdeu no meio da multidão de sonhos e ilusões. Deixou pra trás expectativas e hipóteses, medos e alegiras.

A dançarina já não mais sorria como antes, já não mais brincava com o nariz do palhaço. Sem esperar, se tornou cativa de si mesma, de seus planos, e não soube mais sentir o aplauso da plateia que a assistia.

Antes de sua entrada no palco, a dançarina não fora sequer anunciada, o que provocou no público a alegria da surpresa. Mas assim como entrou, saiu, de repente como quem nunca existiu, deixando o público com o fim daquilo que poderia ser o início.

Mas não ficam só as dores. Não existe nenhum espinho sem que exista uma rosa. A plateia continua esperando a dançarina para que possa alimentar de ternura o sorriso abobalhado dos pagantes.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Lindo momento

Por razões de trabalho, hoje tive que ir a um determinado Município que o caminho passa pela casa da minha avó. Ainda quando estava saindo de casa, liguei pro meu avô e disse que almoçaria com eles. Já fiquei super feliz com a reação dele, o que me trouxe uma alegria que está durando até agora.

Quando cheguei lá fui super bem recebido e enquanto comíamos eu perguntei a minha avó como eles dois tinha se conhecido. Por incrível que pareça, em todos esses anos eles nunca tinha falado disso comigo, e olhe que sou um cara que gosta de saber das coisas.

Começou então uma linda viagem ao passado, um passado que se eternizou no presente. Meus avós guardam lindas recordações daquele. Basta dizer que foi preciso um único encontro para que meu avô terminasse um noivado de 7 anos para se casar com minha avó em apenas dois meses e quinze dias.

Meu avô mora em Salvador e minha avó em Maceió, ele escrevia uma carta por dia durante todo o período entre o dia que se conheceram e o dia do casamento. A aliança de noivado veio pelo correio.

Podem ter certeza, não existe hoje um amor assim. Eles tem 45 anos de casados...

Essa será mais uma história para o livro que estou escrevendo.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Alvorada

Durante a noite percebi que os sinais já não mais se manifestavam como antes, tudo me parecia sempre mais difícil de compreender, mas quando menos esperava veio a alvorada. Nasceu por trás das arvores do bosque que via pela janela da minha sala enquanto, com frio, esperava.

A alvorada do pensamento veio sem fazer barulho. Manteve-se ali até o entardecer, mas dessa fez a noite não veio, estava em paz e tudo estava claro. Passei a entender as tormentas de sentimentos e não mais me preocupava, apenas vivia.

O agora é a alforada contínua. Nesse instante nunca haverá a noite, tudo estará claro. Vivendo plenamente o momento presente, tudo se apresentará como uma grande oportunidade e não mais uma crise.

"Não é hora de chorar amanhaceu o pensamento"

Espera

Quando eu estava arrumando a casa para receber uma visita que chegaria às sete horas da noite, fui surpreendido pela mesma que chegara duas horas antes. Fiquei perplexamente sem jeito, pois a casa estava uma bagunça, apenas tinha começado a arrumar quando a visita chegou.

Um pouco preocupado com sua impressão, pedi que sentasse e não reparasse a desordem enquanto eu continuaria organizando a casa, apenas para que aquela pessoa pudesse se sentir mais confortável.

Ela demonstrou um certo mal estar com toda aquela situação, ai senti que duas coisas poderiam acontecer: ou ela iria embora ou me ajudaria na arrumação da casa para que pudéssemos desfrutar de bons momentos juntos.

Sem qualquer expectativa, esperei.